quarta-feira, 7 de março de 2012

VIDAS SECAS GRACILIANO RAMOS


Vidas Secas, de Graciliano Ramos
Diferentes de tds as outras suas obras, Graciliano Ramos narrou Vidas Secas em 3ª Pessoa. Vidas Secas fica entre o romance e o conto. O mais importante desta obra não são os personagens e sim, o discurso indireto livre do narrador.As frases são quase monólogos em P.Simples sem adjetivação – quase um lamento, quase um grunhido numa lgem primitiva de sobrevivência. Com13 capítulos quase  independentes, mas recorrentes numa espiral de temas e sofrimentos , como a aridez da seca, a zoomorfização e antropomorfização das criaturas,  personagens  com pensamentos entrecortados pela ignorância ou pela dor .Retomam assuntos como  seu Tomás da bolandeira – tido como homem bem sucedido, a cama de varas  de sinhá Vitória, que ansiava por uma cama de tiras de couro, etc.
A ação do livro vai se interligando com a repetição de sofrimentos e humilhações.
A descrição das personagens  que tbém são independentes, uma a uma sem vínculo entre elas...mais uma vez o isolamento do ser humano e  sua solidão.
  Vidas Secas é, como se analisássemos as personagens que são incapazes de falarem por si mesmas.Mesmo em núcleos diferentes, por exemplo, sociais – não há comunicação entre o coronel e Fabiano. Há apenas a submissão , o medo. O tema gritante  desta  obra  é o desencontro dos seres. Com diálogos escassos, os sentimentos são traduzidos em palavrões, revolta, grunhidos. O homem parece ser mais seco do que a terra. O  narrador  utiliza o mesmo artifício , ele é direto, seco, primitivo em suas construções.Apesar de ser jornalista , competente e fluente na criação Graciliano deixou que as situações falassem por si e afastou-se da narrativa , a dura realidade falaria por ele...e pelo homem  sofrido do nordeste. 
1 - Mudança
O que faz um retirante? Foge qdo não há mais condições de sobrevivênca. O livro começa com a família (6 viventes) caminhando pelo chão quente com o sol a pino e as crianças chorando. Fabiano, dona Vitória, dois filhos, chamados apenas de   " menino mais novo" e "o menino mais velho" e  a cachorra Baleia .Falta um vivente?É o pobre papagaio que foi comido para que pudessem seguir viagem.
 Aqui fala-se da terra árida e do sofrimento de todos. Não há diálogo, só o caminhar e o arrastar de pés empoeirados; somente duas vezes o pai, bravo com o menino mais velho, xinga-o porque o menino senta no chão e não quer mais caminhar, a mãe pede ao pai que o leve nas costas. A falta de diálogos estende-se por todo o livro, as crianças não têm nome , para caracterizar a vida mesquinha e sem sentido em que vivem os retirantes, mesmo com tds dificuldades , Fabiano e Sinhá Vitória sonham com uma vida melhor: "Sinhá Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão.
 Fabiano também  sonha: "Sinhá Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória remoçaria, as nádegas bambas de sinhá Vitória engrossariam, a roupa encarnada de sinhá Vitória provocaria a inveja das outras caboclas ... e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria o dono daquele mundo... Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos arredores. A caatinga ficaria verde.
 2 - Fabiano

Homem-bicho, endurecido pela vida, mas ainda vive a se analisar .Demonstra uma consciência de que não sabe nem falar e mtas vezes diz a si mesmo que não passa de um bicho.
3 - Cadeia
O soldado amarelo aparece aqui simbolizando a força, a autoridade, o governo.É feita uma alusão de que a vidado retirante é didícil não só pela seca, mas tbém pelos problemas que tem que enfrentar pelo excesso de autoridade local. É a lei do mais forte. Fabiano foi preso por uma atitude banal/jogo num bar. Perde todo o dinheiro das compras e desiste de  sonhar . Fabiano mais à frente sente-se um homem fracassado , sem esperanças até para  seus filho

4 - Sinhá Vitória
Sinhá Vitória sonha com  uma cama de couro. É o seu assunto recorrente desta personagem.
 Bem articulada , com muito  tempo para pensar, pois Fabiano trabalha o dia todo e à noite dorme . Ele não tem coragem de sonhar...fica preso à dura realidade.
No capítulo Contas, ela é quem percebe que o Coronel está enganando o marido.
5 - O Menino Mais Novo
O sonho do  Menino mais novo é ser igual ao pai.. Neste capítulo: "Naquele momento Fabiano lhe causava grande admiração."E continua assim: "Evidentemente ele não era Fabiano. Mas se fosse? Precisava mostrar que podia ser Fabiano."
Depois: "E precisava crescer ficar tão grande como Fabiano, matar cabras à mão de pilão, trazer uma faca de ponta na cintura. Ia crescer espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru."
Mais ao final do capítulo "Ao regressar, apear-se-ia num pulo e andaria no pátio assim, torto, de perneiras, gibão, guarda-peito e chapéu de couro com barbicocho. O menino mais velho e Baleia ficariam admirados."
6 - O Menino Mais Velho
"Tinha um vocabulário quase tão minguado coma o da papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia."
 Qto mais o tpo passa , mais os desejos e aspirações dos personagens vão diminuindo.Vão se conformando com a vida dura. O menino mais velho só queria ter um amigo. Mas  Baleia era sua cúmplice. "O menino continuava a abraçá-la. E Baleia encolhia-separa não magoá-lo, sofria a carícia excessiva."
7 - Inverno
 Numa noite de chuva intensa, com a casa quase caindo ,no fundo eles sabiam  que não adiantaria nada,  a seca voltaria a assombrá-los e perseguí-los  .
8 - Festa
A família está se preparando para ir à quermesse na cidade, é dia de Natal. Neste capítulo os personagens sentem-se humilhados ao verem as pessoas da cidade . Sentem-se ridículos todos com roupas feitas do mesmo tecido, Sinha Vitória que não sabe usar sapatos e anda como um papagaio , com os pés cheios de bolha. Então  Sinhá Vitória volta a sonhar: "Sinhá Vitória enxergava, através das barracas, a cama de seu Tomás da bolandeira. unia cama de verdade."
Mas Fabiano, já não sonha mais: "Fabiano roncava de papo para cima... Sonhava agoniado... Fabiano se agitava. soprando. Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam-lhe os pés com enormes retinas e ameaçavam-no com facões terríveis."
9 - Baleia

  É o capítulo mais chocante e triste já que o animal sofreu a antropomorfização e já é como se fosse um membro da família.  Estava doente. O pelo caíra , magérrima, em pele e ossos, o corpo coberto de feridas. Fabiano decidiu matá-la para aliviar os sofrimentos dela. Os filhos sofrendo com  a situação, magoados e feridos por perderem um “irmão”: "Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferenciavam..." Escondem-se dentro de casa com a mãe e tampam os ouvidos.
Baleia se esquiva, enqto Fabiano a persegue com a arma em riste,às vezes ela olha para Fabiano como se pedisse misericórdia, a  família chorando e rezando por ela, Baleia espera a morte sonhando com outro tipo de vida: "Baleia queria dormir Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano. um Fabiano enorme. As crianças se esposariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás gordos, enormes."
Dentre os  seis componentes da família, Baleia e Sinhá Vitória são as únicas que conseguem sonhar  nos momentos mais difíceis.
10 - Contas
É outro capítulo melancólico. Se em Cadeia Fabiano conscientiza-se de que há no mundo homens que, por possuírem uma posição social diferente da dele, podem machucá-lo, se em Festa os familiares percebem sua situação inferior e desajeitada e sentem-se ridículos, agora chegam à conclusão de que pessoas com dinheiro também podem aproveitar-se deles. São duas as reações de Fabiano ao notar-se roubado pelo patrão: primeiro revolta, depois descrença e resignação. Vale a pena ressaltar nesse capítulo que é sinhá Vitória quem percebe que as contas do patrão estão erradas. Ela é caracterizada como a mais sagaz  e perspicaz dos seis viventes da família.
11 - O Soldado Amarelo
Apesar do Soldado Amarelo ser bem mais fraco do que  Fabiano, é também  uma pessoa corrupta e Fabiano é honesto. Mas o ingênuo e simples Fabiano morre de medo do Soldado pois ele representa a autoridade , o governo. O Soldado Amarelo, ficando as duas personagens, lado a lado, sem mais ninguém por perto e Fabiano, podendo revidar a injustiça anteriormente sofrida, resolve deixá-lo em paz. Fabiano percebe na organização do Estado a organização que  o humilha; o representante dessa entidade, às vezes, e até frágil, mas a estrutura condiciona o sertanejo  ao medo  de reagir.
 12 - O Mundo Coberto de Penas
A seca ameaça voltar, Fabiano faz uma retomada  de todas as desgraças que têm acontecido em sua vida. Já não sonha há mto tpo. Vai fugir de novo, da seca, dos problemas, do remorso por ter matado Baleia.
13 - Fuga
Fabiano  continua analisando a sua vida. O casal junto, pela primeira vez, consegue pensar sobre o mesmo assunto ao mesmo tpo.Sinhá Vitória é mais otimista e tenta passar pouco de paz e esperança, mas dura pouco. E assim  num misto de sonhos, desilusões e sofrimentos  Graciliano Ramos encerra com  uma visão amarga da vida dos retirantes
Conclusões
Vidas Secas começa por uma mudança e acaba com outra. Isto é cíclico .Parece que  Fabiano e sua família fogem da seca: "Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente. Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram-se as suas desgraças e os seus pavores."
No  último capítulo, Fuga, descreve uma cena parecida com a mudança: "A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços franzidos rezando rezas desesperadas. Encolhido no banto do copiar Fabiano espiava a caatinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, torturadas pelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre. Mas quando a fazenda se despovoou. viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher; matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava jogar-se ao inundo, como negro fugido.
O  romance foi criado por  duas situações idênticas, de tal modo que o início, encontra o fim e já não se sabe onde td começa ou acaba,, fecha a ação num círculo interminável.
Em função da  seca e das águas, o sertanejo sobrevive, do berço à sepultura, infinitamente.
O motivo dessa fuga não é apenas a seca.? No romance  há  dois mundos: o mundo de Fabiano e o mundo da sociedade. O primeiro, composto por Fabiano, sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo, Baleia e o papagaio. O segundo, seu Tomás da bolandeira, o patrão de Fabiano e o soldado amarelo. Todos os personagens do primeiro grupo e do segundo têm de viver na mesma região, vítimas da mesma seca. Por que o Coronel , que é rico, não foge dessa vida? Porque ele tem as terras e o dinheiro, porque ele emprega os trabalhadores e faz suas próprias leis,  usando-os como escravos sem dignidade.  .
Caracterizado como dono e opressor, o patrão não tem necessidade de fugir da seca.  Seu Tomás é culto e tbém está distante da realidade dos retirantes.
Entre os dois mundos que acabamos de descrever “não há um sistema de trocas, senão um mecanismo de opressão e bloqueio”. O que parece ser importante para Graciliano Ramos é denunciar a desigualdade entre os homens, a opressão social, a injustiça. São esses os temas de Vidas Secas, por isso foi dito no início desta análise que o livro não deve ser considerado apenas regionalista. Em momento algum o esmagamento de Fabiano e de sua família é explicado apenas pela seca ou por qualquer fator geográfico.
á foi feita uma referência anteriormente sobre a consciência de Fabiano quanto à sua condição animalizada na sociedade a que pertence. Affonso Romano de Sant’Ana faz uma aproximação de Fabiano à Baleia, e de sinhá Vitória ao papagaio. Segundo ele, o pensamento de Fabiano, no capítulo que recebe seu nome, passa por três etapas:
"Primeiramente, ele se considera positivamente dizendo: Fabiano, você é um homem’. Depois se estuda com menos otimismo, e considerando mais realisticamente sua situação se corrige ‘— Você é um bicho, Fabiano - Ou seja: um individuo que não sendo exatamente um homem, pelo menos sabia se. safar dos problemas. No entanto. poucas frases adiante, nova alteração se dá em suas considerações. E de homem que se aceitara apenas como um bicho esperto, ele se coloca como um animal: “o corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu.
Decaindo do ponto mais elevado da escala, passando a indivíduo apenas esperto e depois a um semelhante do animal, Fabiano termina por se aproximar de Baleia, a quem, em contraposição, em seu diálogo-a-um ele considera: “— Você é bicho, Baleia ‘, Nesta frase estaria integrado o sentido duplo do termo “bicho ‘. aplicado a Baleia: animal / esperteza, positivo / negativo. Uma análise mais interessada nestes levantamentos poderia perfilar dentro do livro todos os processos sistemáticos de zoomorfização dos animais, destacando principalmente os verbos e adjetivos conferidos a um e outro elemento numa mesma simbiose metafórica.
A identificação entre sinhá Vitória e o papagaio acentua-se sobretudo no capítulo Sinhá Vitória, quando ela tenta perceber o sentido da comparação que seu marido fizera do seu modo de caminhar com o do papagaio: "Ressentido, Fabiano condenara os sapatos de verniz que ela usara nas festas, caros e inúteis. Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como papagaio, era ridícula."
A imagem dos pés de Vitória vai se mixegenando à imagem do papagaio, até que estilisticamente a superposição se destaca em frases como essas: Olhou os pés novamente. Pobre do louro. Aí o adjetivo pobre já não se refere exclusivamente ao papagaio que foi morto para saciar a fome da família, mas  a própria Sinhá Vitória é descrita como tão “infeliz” como aquele “pobre louro “.
 Já no  capítulo, GR usa o recurso de espiral e retoma a imagem da ave,desta vez , refere-se à galinha, especialmente a “galinha pedrês", que foi devorada pela raposa.

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