A narrativa de Angústia
é diferente num primeiro olhar: é um romance de difícil compreensão, já que há
o discurso indireto livre muito presente , fluxo de consciência em boa parte da
história, além das diversas temáticas existentes na trama, aborda o
existencialismo e simbologias, e ao mesmo tempo, utiliza uma linguagem em flashes
cinematográficos
O romance é narrado em primeira
pessoa, narrador-personagem, apresenta personagens num intenso conflito, é um
romance que aborda o existencialismo, em tom intimista. Em cada um deles, o
narrador mostra-se e faz confissões de
culpas dramáticas.
Luís da Silva, protagonista do
romance, veio do interior (mundo rural) para a capital. Ele é um anônimo
qualquer na cidade. Em sua vida provinciana, escreve para o jornal o que lhe
pedem, atendendo a encomendas, de forma submissa, sem refutar. Ele se considera
um fracassado: vive mediocremente, com sua vida profissional estagnada, sendo
apenas um funcionário público, nem em sua vida afetiva, mantendo um noivado
prolongado pela falta de condições para a efetivação do casamento. Marina, a
noiva, torna-se amante de outro homem, do qual engravida.
Num mundo
capitalista, sempre devendo, aluguéis atrasados e fazendo empréstimos para
agradar a noiva, Marina. Ele a pede em casamento, mas ela o deixa por outro
mais bem-sucedido, Julião Tavares. Filho de comerciantes, bem-sucedido, audacioso
e competente na arte em ganhar dinheiro. Julião Tavares possui muito dinheiro
para comprar Marina com tudo aquilo que ela deseja: joias, roupas, passeios ao
cinema e ao teatro.
Luís da Silva não suporta sua rotina
desmotivada e sem novidades. Passa a conviver com um ciúme desmedido que, cada
vez mais, leva-o ao crime. Assim ,sentindo toda essa angústia, ele deve sobreviver em uma sociedade da qual se sente
excluído.
Luís persegue a vida de Marina,
seguindo-a feito uma sombra, principalmente depois que Julião Tavares a abandona
grávida. O ódio a Julião cresce de forma avassaladora, ele cultiva a ideia de
que somente a morte iria dar fim aquele sofrimento: especificamente, a morte de
Julião Tavares, que representa tudo aquilo que ele não podia ser, e com isso,
surgindo como uma grande ameaça. Oprimido pelos acontecimentos, Luís da Silva
persegue seu rival, que andava às voltas com nova amante. Gradativamente
amplia-se seu drama interior, sente-se metade, diminuído diante da prepotência
de Julião Tavares e, enquanto a angústia o alucina, não tem condições de
raciocinar claramente, mas percebe que não há outra saída a não ser o crime.
Há neste momento da narrativa um
processo de construção interessante do narrador personagem Luís da Silva, que
se vê no momento do assassinato como o seu instante de autoestima, de
realização pessoal, tornando-se o herói do seu próprio relato. É nesse contexto
que Graciliano constrói a saga do protagonista de Angústia,
construído de forma diferente dos apresentados em outras narrativas como São
Bernardo e Caetés.
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